Finalmente aqui está a próxima parte! Tive tantos altos e baixos na hora de fazer este. Ao menos está um pouco maior. Tenho pensado bastante nessa história e só espero que ela não fique complexa demais. O próximo? Não sei… Espero que agrade o/
Férias de verão
Parte 2
O homem coçou mais uma vez o cavanhaque. Ele estava nervoso pois finalmente iria conhecer a filha de sua esposa. Ao ouvir o barulho do carro de Kátia, adiantou-se para a porta recepcionar as damas. Ele também estava a par da situação em que se encontravam mãe e filha. Sabia que a menina se recusava a falar com a mãe, e sentia que indiretamente ela o culpava pela separação dos pais. Esperava mudar essa opinião ao longo do verão. Enquanto aguardava a esposa se aproximar e estacionar, olhou em volta a procura de sua própria filha. Nenhum sinal da jovem. Ele havia deixado claro que queria a presença dela para recepcionar a meia-irmã.
Ao levantar os olhos novamente para a casa, Letícia reparou que um homem alto, com cavanhaque e cabeça raspada saiu pela porta principal da casa. Viu-o colocar as mãos no bolso da bermuda preta e olhar em volta. Ela teve que admitir que o tal do Fernando era bonitão, mas só isso não seria suficiente para fazer com que ela o aceitasse.
Assim que Kátia estacionou o carro em frente a escadaria que dava para a fachada da casa, o homem se adiantou e se aproximou do bagageiro. Letícia viu sua mãe apertar um botão no painel de controle e um som de destravamento foi ouvido. O homem então pegou a única mala que havia no bagageiro e bateu a porta com suavidade. A mala era grande, daquelas retangulares com rodinhas, detalhada em vermelho, azul e laranja. O homem então se posicionou ao pé da escada para esperar mãe e filha. Sem muito entusiasmo, a jovem desceu do carro e se encostou na porta assim que a fechou sem um pingo de tato, encarando o chão como se ele fosse a coisa mais bonita daquele lugar. Kátia suspirou ao sair do veículo e, ainda ansiosa, dirigiu-se a filha.
“Letícia, esse é o Fernando, meu marido. Querido, essa é minha filha.” Kátia apresentou um tanto quanto insegura. Letícia levantou o olhar e encarou o homem pela primeira vez. Fernando sorriu tentando parecer seguro de si. Largou a mala onde estava e se aproximou da jovem.
“Muito prazer, Letícia.” Saudou estendendo uma das mãos para que fosse apertada. Meio a contragosto, ela apertou a mão do homem. Ela sabia que a mãe estava ansiando para que ela o fizesse. Não que isso signifique que ela já esteja disposta a aceitar o homem e tudo que ele implicava. Ela só queria ser civilizada.
“…” Apesar de ter apertado a mão de Fernando, Letícia não se manifestou verbalmente. A mão dele era firme e musculosa, e estranhamente passava uma sensação de segurança.
“Joey ainda não chegou?” Kátia perguntou olhando em volta. Letícia se intrigou com a pergunta. Quem seria Joey? Seria sua meia-irmã? Mas esse era um nome masculino.
“Não. E eu especifiquei bem a hora que vocês estariam de volta.” Fernando respondeu voltando para a mala. “Vamos. Acho que a Letícia vai querer ver o quarto antes do resto da casa.” Seu tom foi divertido numa tentativa de tirar um pouco a tensão do silêncio da menina, mas não adiantou muito.
Letícia desencostou do carro e seguiu o homem. Sua mãe se juntou a ela em seguida. Ao passar pela porta, a jovem se encontrou em um ambiente amplo. As paredes de um azul cálido passavam uma sensação de tranquilidade e frescor. Quadros emoldurados decoravam as paredes, e se chegasse mais perto, notaria-se que eram todos premiações. Discos de prata, ouro, platina, diamante, todos representações de sucessos de venda. A mobília escura, os pufes e sofás de couro atribuíam ao ambiente um ar de bar do rock dos anos 60 com direito a um jukebox em uma das paredes. Letícia gostou do que viu. Sem perceber, o canto de sua boca tremeu para cima.
Eles atravessaram tal sala e chegaram a outro comodo onde Letícia visualizou uma larga escada. Ela seguia em um suave espiral para o piso superior e estava posicionada em frente a uma parede de vidro. Do outro lado, Letícia podia ver um jardim colorido e um conjunto de mesas e cadeiras para um chá da tarde. Havia também uma longa mesa de jantar posta com um variado café da manhã. Frutas cortadas e picadas, pães, bolos, sucos. O cheiro da comida fez com que Letícia percebesse que estava faminta. Sem parar, os três caminharam escada acima, e na terceira porta a direita Fernando se virou para a jovem.
“Espero que goste do quarto.”
Letícia acenou com a cabeça e esperou que a porta fosse aberta. O homem então abriu a porta e entrou primeiro. O quarto era amplo e arejado. A janela de vidro ia de uma parede a outra sem cortina, e a jovem se perguntou como evitaria a claridade pela manhã. Fernando colocou a mala em cima do baú que se encontrava ao pé da cama e se encaminhou até a mesa de cabeceira. Ao abrir a gaveta, tirou um controle e apertou um botão. Imediatamente uma cobertura escura começou a descer do teto sobre a janela.
“Temos isso em todos os quartos.” Fernando explicou. “As vezes meu horário de dormir é meio invertido. Mas isso é melhor que cortina, não acha?” Seu tom foi brincalhão. Então, apertou um outro botão no controle que fez a cobertura se retrair, e o colocou em cima da mesa. Letícia teve que concordar, mas apenas arqueou as sobrancelhas.
“O guarda roupas está vazio. Pode colocar seus pertences nele. Se não for suficiente, avise. Tudo bem?” Kátia informou abrindo o móvel.
“…. Okay.” A jovem concordou secamente. Eram as primeiras palavras de Letícia desde que colocara os pés desse lado do país. Ela sabia que ficar muda o verão inteiro não era uma opção e que não tornaria as coisas mais fáceis.
“Ótimo. Que tal então irmos tomar café da manhã agora? Terá o resto do dia para se acomodar e conhecer o resto da casa.” Sugeriu Kátia, secretamente ansiando que a filha lhe pedisse para mostrar todas as acomodações do lugar. Mas a adolescente apenas concordou com um aceno de cabeça.
Os três desceram a escada em silêncio. A atmosfera ficou desagradável até chegarem a mesa. Foram dois minutos da mais pura agonia. Ainda sem trocarem uma palavra, Fernando se sentou ào lado direito da mesa e Kátia ao seu lado. Letícia optou pelo lado esquerdo, ficando em frente a mãe. Ela ficou intrigada com o fato de Fernando não ter se sentado à ponta. Não é geralmente onde os patriarcas de famílias ricas como a dele sentam? Se bem que quando seus pais ainda eram casados, eles se sentavam à ponta, alternando de acordo com quem cozinhava no dia. Até ela se sentava à ponta nos dias em que cozinhava. Talvez cada família tenha sua própria tradição.
Assim que se concentrou na comida a sua frente, o estômago de Letícia a lembrou que estava vazio. Tinha praticamente todos os seus bolos, frutas e sucos favoritos. Ela ficou impressionada que Kátia ainda se lembrava de seus gostos, mas tentou não transparecer. A primeira coisa que colocou no prato foi uma fatia de bolo de laranja. Depois se serviu de suco de goiaba. Ao colocar pedaço da fatia na boca, Letícia sentiu o sabor invadindo seus sentidos. Estava claro que era um bolo caseiro. Um grunhido aprovador escapou de sua garganta.
“Dona Geralda vai ficar feliz em saber que gostou do bolo dela.” Fernando comentou descontraído. A jovem apenas concordou com a cabeça, já que a boca estava cheia. “A propósito, gosta de festas? Darei uma festa no sábado.” Ao ouvir a palavra ‘festa’ Letícia arregalou um pouco os olhos. Ela achava que ia ficar no tédio o verão inteiro. Quem diria que esse cara era dado a festas?
“Se não tiver roupa pra festa, podemos ir à cidade comprar. Se não quiser minha companhia, acho que Joey não se importaria em te acompanhar.” Kátia falou a última parte meio frustrada. Letícia pensou um pouco.
“Qual traje da festa?” Quis saber pensando nas roupas que havia trazido. Se fosse algo mais rebuscado, infelizmente ela teria que ir as compras. Ou a mãe, ou com a pessoa chamada Joey, que ela suspeitava ser um cara.
Antes que Kátia ou Fernando pudessem responder, ouviu-se risos vindo da direção da sala de estar. Logo, um casal atravessou o arco que separava a sala de jantar da sala de estar. A garota olhou espantada para um Fernando furioso, mas logo voltou a uma expressão neutra.
“Explique-se.” Fernando inquiriu com autoridade. A garota suspirou frustrada. O cara ao seu lado parecia indiferente a situação que ocorria.
“Eu esqueci. Me distraí lá. E quando lembrei já estava tarde.” A garota explicou meio a contragosto. A voz dela era bonita e melodiosa, arrouqueada. Aquela voz chamou a atenção de Letícia e ela viu de fato sua dona. A garota parecia ser alta, mas o cara do lado dela era pelo menos dez centímetros mais alto; a pele era alva aparentemente sem imperfeições; O rosto era delicado, queixo fino, lábios volumosos, nariz arrebitado, olhos de um azul-acinzentado com silios longos e sobrancelhas finas. O cabelo tinha um undercut e o resto do cabelo era grande, com a raiz preta e as pontas pintadas em vermelho, rosa e roxo, presos num coque frouxo. Letícia a achou bonita. Já o rapaz tinha cabelos alourados compridos e ondulados, uma barba rala da mesma cor do cabelo lhe cobria o queixo largo e o maxilar, seus olhos eram de um verde escuro e suas sobrancelhas eram grossas. Parecia ser forte com alguns músculos definidos. Ele era bonito também, mas não parecia muito apelativo a Letícia. Será que era a frustração de estar onde não queria? Ou será que era porque não gostava muito de caras barbudos?
“Jo. Sabe que não me importo se passa a noite fora, mas o mínimo que poderia fazer era cumprir com a palavra quando te peço algo. Isso era realmente importante. De qualquer forma, conversaremos sobre mais tarde.” Fernando usou um tom imponente, mas calmo. “Vai nos acompanhar no café da manhã?”
“Não. Vamos dormir um pouco. Tocamos a noite toda e amanhã tem mais.” Jo respondeu simplesmente, dando de ombros. “Bom dia, Kátia.” Então ela se virou para Letícia. “Bom dia pra você também.”
“Bom dia, Joey.” Kátia respondeu neutra,mas pendendo para o simpático. Então Jo segurou o braço do rapaz e os dois subiram as escadas.
Letícia observou o casal subir as escadas até que sumissem no andar de cima. Ela não conseguia acreditar em seus olhos. Durante a semana que ficara imaginando o quão ruim seria seu verão, de todas as formas e jeitos que imaginara sua meia-irmã, uma roqueira estilosa não era uma delas. Para completar, Augusto não lhe mencionara o nome da filha de Fernando. O tempo todo ela estava achando que seu pai havia se enganado, porque Joey era apelido ou nome de homem. E agora ela estava fascinada que Joey era uma das garotas mais bonitas que ja vira na vida. Por alguns minutos, seu bolo ficou esquecido no prato.
Parte 2 – Fim